Capítulo 1 – Responsabilidade do Combate
“O guerreiro se posicionou na clareira, onde o ondulante mar de grama encontrava o cinturão flamejante de nuvens no novo horizonte. Ele sacou sua lamina com perfeição, cortando o ar com um assobio, seus olhos fixos, o ar penetrando calmamente no profundo âmago de seu corpo. Com uma súbita energia, ele se precipitou a frente, golpeando com destreza o ar em uma sucessão feroz, cada golpe uma expressão completa de suas habilidades. Como uma onda do oceano, sua lamina levantava e caia, progressivamente, sem malícia ou dúvida. A resolução de sua vontade parecia parar com o próprio zumbido da natureza que estava ao seu redor. Então, com a consciência de volta a ele, embainhou sua espada cuidadosamente de volta a bainha e vagarosamente ajoelhou-se na grama alta, agradecido pelo alvorecer que estava diante dele.”
O combate é a essencia de toda a vida. Todos os dias de nossa existência nós lutamos para sobreviver. Nós travamos batalhas contra o stress, idade, fadiga e desejos. Nós trabalhamos para providenciar abrigo, comida e conforto. Nós competimos em nossos estudos, no trabalho e mesmo nas nossas atividades de lazer. Como indivíduos, nós estamos constantemente nos esforçando para ir para frente e para achar segurança e um significado em nossa existência no planeta. É por isso que digo que nascemos para sermos guerreiros.
Essas batalhas, pela sua natureza são imprevisíveis, um pano flutuante tecido parcialmente pelas nossas intenções, parcialmente pela resistência e intenções daqueles que se opõem a nós, temperado com medo, perdas e dor, e finalmente vetado e forjado pelo capricho da Mãe Natureza. No combate, assim como na vida, simplesmente não existem garantias, soluções definitivas, nem certezas absolutas. Ao contrário do que muitos marqueteiros tentam nos fazer crer, nenhum estilo, técnica, ou abordagem pode assegurar a ninguém a supremacia no campo de batalha, ou na sala de reuniões, não importa qual seja o desafio. Se algum estilo assim existisse, seria fácil de achá-lo – seria o estilo usado pelos guardas do imperador do universo e ele neutralizaria qualquer um que lutasse contra ele, mas acredito que todos nós podemos seguramente concordar que tal supremacia não existe. Existe porém uma coisa em comum em qualquer luta, uma certa verdade que pode ser encontrada em qualquer conflito ou contenda não importa aonde ela é travada: a que a violência, pela sua natureza, é imprevisível.
Através das eras, as tradições guerreiras vêm tendo uma variedade inebriante de abordagens para a prontidão de combate. Alguns tentaram ritualizar a violência para algo mais controlável, algo mais seguro, quase sempre com uma armação que fundia religião, preocupações estéticas ou valores culturais com sobrevivência. No seu livro ganhador de um Premio Pulitzer, “Armas, Germes e Aço”, o autor Jared Diamond, estudou a importância essencial da adaptabilidade para mudar e inovar no nível cultural. Um exemplo que ele deu foi o do Japão que se recusou a usar armas de fogo. Em 1543, dois aventureiros portugueses armados com rifles primitivos, trouxeram essa nova tecnologia para o Japão. Os japoneses ficaram tão entusiasmados com a arma que começaram a fabricar suas próprias armas imediatamente e em 1600 eles tinham melhorado tanto essa tecnologia, que passaram a ter armas melhores e em mais quantidade que qualquer outro país do mundo. Pense nisso por um momento. O grande interesse do país em guerras originou-se da sua poderosa sociedade de classes guerreiras, os samurais. O problema era que na base do modo de vida samurai, estava a espada. Mais do que somente uma arma, a espada japonesa mantinha um poderoso valor na distinção de classes e era um símbolo do espírito nacional japonês e sua força. Diamond escreve:
"As batalhas japonesas tinham previamente envolvido combates individuais entre espadachins samurais, que se posicionavam em campo aberto, faziam discursos rituais, e só então tomavam orgulhosos em graciosos combates. Esse comportamento se tornava letal na presença de soldados-camponeses disparando sem classe nenhuma com suas armas. Ainda mais, armas eram uma invenção estrangeira e crescia o desprezo à elas como a outras coisas estrangeiras no Japão após 1600.”
Foi assim que o governo interviu para restringir e eventualmente eliminar a produção de armas. Incrivelmente, essa proibição durou por 200 anos! Dado o isolamento geográfico do Japão, eles foram capazes de aderir a uma estrutura social e combativa antiquada, enquanto o resto do mundo, forjava corajosamente afrente a melhoria das armas de fogo. Esse decreto ideológico foi primeiramente esmagado pela realidade do mundo em 1853, quando o Comodoro Perry, liderando uma poderosa armada americana, “convenceu” o Japão da necessidade de retomar a produção de armas se eles quisessem permanecer competitivos com as forças estrangeiras que já não poderiam ser seguradas na baía.
A História está cheia de exemplos do absoluto poder da adaptabilidade. Eurásia, durante a Idade Média é um exemplo oposto do fenômeno que acometeu o Japão durante o século XVII. Ali, os eruditos islâmicos beneficiados pela sua geografia, abraçavam as inovações vindas da Índia e China, que estavam prontas para eles. Além disso, eles herdaram o antigo conhecimento grego ao ponto de muitas das obras-primas gregas hoje conhecidas só se tornaram conhecidas através de cópias arábicas. Como escreve Diamond, enquanto a Europa se atrapalhava na Idade das Trevas, as sociedades Islâmicas no Oriente Médio faziam inovações com tecnologias de moinhos, criavam a trigonometria, faziam avanços na metalurgia e engenharia química, criavam métodos de irrigação. Eles adotaram o papel e a pólvora e continuaram em primeiro plano em avanços tecnológicos até meados de 1500, quando uma mudança na ideologia combinada com novas forças culturais causou uma grande mudança nessa maré.
Estes dois simples exemplos com finais opostos do espectro provam um simples fato: inovação e adaptabilidade são a essência para a sobrevivência. Novas tecnologias e conhecimento devem ser constantemente absorvidos, integradas e mantidas para prosperar. Por essa razão, muitos sistemas modernos de defesa-pessoal se desviaram das artes marciais tradicionais, criando híbridos que incorporaram as últimas estratégias combativas, avanços psicológicos, biomecânica, desempenho esportivo e uma multidão de outros fatores. Eles entenderam que o mundo está sob constante mudança. Como disse Heráclito: “você não pode pisar no mesmo rio duas vezes”. O Universo flui constantemente.
Exercício 1 – Siga o fluxo:
- Imagine qualquer situação de defesa-pessoal. Quanto mais simples melhor. Algo básico como um empurrão ou uma pegada de pulso.visualize você resolvendo essa situação em todos os detalhes. Uma vez que voce tenha concluído a situação, reveja mentalmente a situação novamente. Perceba que mesmo nas suas próprias visualizações, enquanto se torna mais familiar com a sua situação, voce adiciona detalhes, embelezando a sua resposta, ás vezes até mesmo alterando a reação.
- agora, tente a aplicação do movimento. Pode ser uma técnica de defesa-pessoal com um parceiro ou um movimento sozinho, como uma flexão de braços ou um agachamento. Apesar de ser uma técnica intencional que voce quer fazer, note que vão ocorrer variações em cada repetição. Voce provavelmente nunca vai fazer duas flexões idênticas ou desferir dois socos idênticos. Quanto mais variações você adicionar em qualquer coisa que você faça, mais orgânico e original cada repetição vai naturalmente se tornar. Por exemplo, se você ficar socando enquanto anda para trás descendo um lance de escadas, você vai notar muitas variações em cada repetição.
Até mesmo esse simples exercício reafirma que o combate é caos. Estou cravando esse prego bem fundo porque é um tema muito importante. Independentemente de sua ideologia, não importa como você se prepare, no final, todo guerreiro precisa encarar a realidade que a violência carrega consigo um infinito número de variáveis. Uma vez que não existe uma maneira de prever como um inimigo vai atacar, não existe uma técnica ou um método que possa garantir a sobrevivência. A história tem nos mostrado, a chave é a adaptação.
Eu vou iniciar esse manual com uma simples crença que é, que cada um que ler esse manual tem crenças e valores diferentes, mas somos todos limitados por um mesmo, e fundamental objetivo- nós somos guerreiros que querem se preparar melhor para a realidade e pressão do combate e da vida em geral. É por isso que estamos lendo esse livro. Portanto, eu peço que você reafirme essa simples verdade:
Estar preparado para o stress de combate é sua responsabilidade. Ninguém fará isso por você. Existe ajuda e suporte disponíveis durante a sua preparação- esse manual certamente será como um mapa- mas no final, a obrigação de fazer essa escolha e seguir adiante, é somente sua. Como veremos nas próximas páginas, nem mesmo nossos instintos podem fazer essa tarefa por nós – me desculpe se estourei algumas bolhas, se alguns de vocês estavam esperando que seus instintos naturais te livrassem dessa.
Exercício 2 – Você está pronto para a mudança?
- Pegue um momento para você e faça as seguintes 3 perguntas. Isso é importante, então, por favor considere profundamente cada pergunta, uma de cada vez e esteja certo de suas respostas antes de continuar:você acredita que é possível mudar o seu comportamento e melhorar suas habilidades para defender-se em todos os aspectos de sua vida?
- se sim, você gostaria de melhorar as habilidades essenciais para defesa pessoal?
- se sim, quão logo você gostaria de sentir essas melhorias?
Se você respondeu algo diferente de:
- Sim, você acredita que é possível mudar o seu comportamento e
- Sim, você gostaria de melhorar suas habilidades de defesa pessoal e você está pronto para sentir essas melhorias logo ou agora....
...então, talvez esse manual não seja capaz de ajudá-lo. Primeiro você? Deve pegar um momento e determinar quais sãos seus reais objetivos e o que o motiva a se dedicar ao seu treinamento de defesa pessoal. No outro lado se você realmente acredita que é possível melhorar e mudar seu comportamento e você está pronto para sentir essas mudanças agora, então vou lhe mostrar como suas únicas limitações são suas expectativas.
Você tem em mãos um esquema para sua própria evolução nesse instante. Esteja preparado para a mudança.
“A menos que você de o seu melhor, um dia chegará quando, cansado e com fome, você irá se deter muito próximo da missão que lhe foi ordenada, e por se deter você terá tornado inútil o esforço e a morte de milhares.” (General George S. Patton).
Texto encontrado em: http://www.systemabrasil.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=50:responsabilidade-do-combate&catid=30:artigos&Itemid=56